quarta-feira, 17 de outubro de 2018


RESGATE DO MUAY THAI

        Recentemente nosso ex-aluno e grande amigo, Felipe Silva, que atualmente reside e luta na França e Suíça, inclusive treinou com Ajarn PuPadNoi e Guilherme Kerner, esteve nos visitando e treinando. Durante uma sessão de vídeos de eventos da Europa, outro amigo, ex-integrante da equipe, mas que mantém um grande intercâmbio e amizade, fez o seguinte comentário: “Que Muay Thai de nível!!!”. No que fomos unânimes em replicar - Era um bom KickBoxing, com nuances de Muay Thai, mas aquilo com certeza não era Muay Thai.

        Para dar prosseguimento vamos definir alguns conceitos importantes, como a diferença entre esporte de combate e arte marcial. Arte Marcial tem como objetivo principal  defesa pessoal, com implementação de filosofia e como modo de vida, mesmo que haja competição interna entre os praticantes da modalidade. Já os esportes de combate, visam exclusivamente às competições, onde os atletas são submetidos a uma série de regras em comum para lutar. Vamos exemplificar: Um praticante de Karate, Kung Fu, Muay Thai, Taekwondo, etc. pode competir sob as regras do KickBoxing, porém não participa das competições da  outra modalidade .
         O motivo disso tudo é deixar claro que Muay Thai é uma ARTE MARCIAL, não é um esporte de combate. Para ser instrutor, professor, mestre e etc, é imprescindível uma genealogia, um histórico dentro da arte, ou seja, ter raízes e mais ainda, tais raízes tem que ter suas origens lá na Tailândia.
        A realidade é que o Muay Thai demonstrou sua eficácia em combate, onde suas técnicas e metodologias foram parcialmente incorporadas em diversas modalidades de combate, como KickBoxing, MMA e etc. Propiciando o surgimento de aproveitadores  da fama e ‘status’ do nome MUAY THAI. Um outro agravante dentro desse contexto é que vários ainda se levantam proclamando-se como ‘donos’ da modalidade; sem nunca ter treinado, competido, sequer teve contato com qualquer aspecto da Arte marcial, muito menos no que concerne à legalidade que envolve a modalidade em a sua origem em solo Tailandês.
Muay Thai com faixa?
 
Várias pessoas têm se declarado mestres, apresentam linhagens estranhas, muitas vezes até cômicas, parecem não se dar conta do ridículo a que estão se expondo. Outras emitem certificados, diplomas, representações e afins; literalmente iludindo incautos ou leigos, aliciando pessoas que de boa fé, acreditam nessas estripulias que aparentam verdade.
         Não é de nosso feitio efetuar comparações, pois creio fielmente que as artes marciais sofram um processo de seleção natural, onde os autênticos e verídicos continuam no sacerdócio de divulgar sua modalidade, enquanto os aproveitadores da ‘onda’ logo se dispersam, não conseguem manter o foco, ou ainda melhor, são desmascarados no transcorrer das suas peripécias, uma vez que não conseguem manter a farsa devido à falta de raízes e cabedal técnico.
 Alguns anos atrás houve um trabalho evangelístico com uma equipe evangélica brasileira de jogadores de futebol, pelo Sudeste da Ásia, onde tivemos o prazer de acompanhar, passando por alguns países como Laos, Camboja, MyanMar, Vietnã e lógico Tailândia. Em paralelo as clínicas de futebol, pudemos visitar alguns centros de treinamento de artes marciais locais, como o Bokator (Camboja); LethWei (MyanMar); Tham Thê (Vietnã) e Muay Lao ( Laos).
Fomos bem recebidos e efetuamos um excelente intercâmbio. Devido as raízes históricas de tais modalidades, são muito similares ao Muay Thai, tendo inclusive o lutador Pinch,  Cambojano praticante de Bokator e Muay Thai, como campeão de uma província da Tailândia. 
Nem por isso, mesmo sendo agraciado com certificados honoríficos e afins, declaramo-nos representantes de quaisquer modalidade, nunca! Isso é no mínimo um descaso com a modalidade e seus representantes e mais ainda em relação ao público em geral, que crédulo, está praticando algo que não condiz com a realidade de uma arte marcial.
Alguém já viu um Mestre de Taekwondo emitir certificado de Karatê? Ou ainda um mestre de Kung Fu autorizar um instrutor dar aulas de Jiu Jitsu? E um treinador de Boxe ministrar seminários de Judô? Pois é, a não ser que a pessoa em questão tenha sua formação em ambas as modalidades e tenha técnica suficiente para tal, do contrário não se justificam algumas situações ABSURDAS com que temos nos deparado, como por exemplo: Campeões vitalícios de Thai Boxing; Único representante de organização ‘X’ fora da Tailândia; Campeão Mundial por equipe e individual em 1995 - Bangkok (Eu estava lá, não vi nada disso - será que estou tão velho assim que já não lembro mais?). 
Em fevereiro de 2009 efetuamos um seminário sobre arbitragens e sobre armas Thai (Krabi Krabong), quando tivemos contato com um ‘pseudo-mestre’ de Muay Boran, alegando ser o único ‘9º Dan’ fora da Tailândia, também o único estrangeiro conhecedor de todos os ‘katas’ do Boran. Desculpem...mas que “viagem” desse cidadão...vamos por partes: Kata, Dan etc são nomenclaturas específicas de lutas japonesas.
Tive a grata satisfação de treinar Boran – Pahuyuth e Krabi com o Grande Mestre Samai e NUNCA vi ou ouvi tais disparates.
O cidadão em questão, ainda ficou indignado com meu alerta a ele sobre tal confusão. Mas para um leigo, o apelo do que ele falava soa fortíssimo e o colocava como autoridade sobre a modalidade, que pelo pouco avaliado durante o seminário, ele nunca deve ter pisado em uma academia de arte marcial Tailandesa. Tanto que pediu um certificado sem os dizeres no verso “Não autoriza ministrar aulas da modalidade”; que é óbvio não obteve, pois é de praxe essa prática em nossos certificados de seminários.
Perigosa tal situação, pois pessoas estão se matriculando, ficando a mercê de tais ‘mestres’ sem ter a devida noção que, além de serem enganadas, a integridade física está sendo colocada em risco. Aluno NÃO é saco de pancada ambulante, nem sparring, muito menos meio de descarregar stress de aluno graduado. Todo e qualquer aluno, seja iniciante, seja avançado ou mesmo instrutor, merece o devido respeito à pessoa e ao seu dinheiro, pois tudo isso tem um custo, e normalmente esses supostos mestres cobram caríssimo. No site www.muaythai.com.br vemos o excelente artigo do Mestre Guilherme Bringel sobre o assunto, que traduz muito disso que estamos tratando.
Situações preocupantes como essas, assim como outras do tipo professor de Tai Chi ministrando seminários e formando instrutores; Técnico de Boxe dando clínicas de Clinch de Muay Thai; Seminários de um dia formando professor. O outro é fotografado junto com um Tailandês e afixa na academia dizendo-se ser representante oficial do dito Thai para a localidade. Detalhe o cidadão nem sequer sabe falar direito o nome do Tailandês e ainda dá entrevista colocando o nome do Thai todo errado; isso eu posso dizer com certeza, pois quando o referido mestre Thai, mesmo sendo Mestre de um outro professor amigo, quando ministrou palestras aqui no Brasil, elas foram ministradas em nossa academia.
Por fim o mais preocupante, temos visto nas competições, lutadores sem o mínimo preparo subirem ao ringue, sem conhecimento de regras e regulamentos, muito menos ainda das técnicas inerentes ao Muay Thai, totalmente iludidos sobre a eficiência do que vão aplicar na luta. Em outra situação durante uma competição, onde atuávamos como juiz e também com atletas da equipe competindo, um treinador de outra equipe comentou que: “Hoje em dia qualquer um leva seus atletas para lutar lá fora”. Graças aos esforços de muitos dos precursores da modalidade no Brasil, isso é uma grande verdade, qualquer um pode ir lutar em um evento no exterior e vice-versa. O detalhe é que sem representatividade nenhuma! Pode gerar status de competição internacional, currículo e tudo mais, porém não é cartel, não gera pontos para ranking; sinceramente, no final das contas é um cartel de lutas pessoal ‘bonitinho’, conhecido como perfumaria, nada mais. Diferente daqueles lutadores sérios, que saem do Brasil direcionados e bem intencionados, tem seus títulos reconhecidos por uma entidade internacional; tem titularidade no ranking (aliás, de fácil consulta pela Internet); tem espaço aberto em centros de treinamento sérios e respeitáveis e o mais gratificante, são eventos oficiais do verdadeiro Muay Thai.

O motivo de tudo isso é um alerta sobre o direcionamento do Muay Thai. O Brasil tem uma enormidade de atletas de altíssimo nível; material humano excelente para a modalidade, mas que tem que ser respeitado como tal e valorizar os verdadeiros lutadores  e professores de Muay Thai, que sabem o sacrifício e a honra de fazer parte de uma modalidade milenar e altamente eficiente em sua essência que está muito além dos meros interesses egocêntricos de disputa política financeira.
Muay Thai é muito mais do que competição, como dissemos anteriormente é uma arte marcial com um propósito e formador de caráter e moral.  Reiteramos como em outros artigos, procure sempre uma academia séria, com linhagem e respeito na formação de seus integrantes.
Professores capacitados e qualificados; conheça o trabalho deles antes de se matricular; trace seu objetivo na modalidade, lembre-se sempre que competição não é o objetivo principal e sim o seu bem estar físico, psíquico e social. Valorize seu dinheiro e seu bem estar, pesquise e  busque treinar com pessoas sérias e competentes, que realmente lhe trarão a essência do Muay Thai e o direcionarão no caminho da modalidade.





        Agradecemos a paciência e atenção dos amigos. Críticas e sugestões:


quarta-feira, 24 de junho de 2015

Motivo de 3.23 (três vinte e três)

Colossenses 3.23 "Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens"

Com base nos princípios da Huajai Lek = Coração de Ferro, equipe fundada em 1982 em São Paulo, onde tem como principio o verso biblico 23 do capítulo 3 do livro de Colossenses e a determinação em cumprir a missão dada pelo Ajarn Tong Trithara para um grupo de brasileiros que é justamente o de desenvolver, promover e divulgar o autêntico Muay Thai iniciamos esse pequeno projeto de blog, onde almejamos trazer novidades, princípios, história, questões técnicas e claro...MUITO debate para fazer cooperar com aqueles que buscam um autêntico Muay Thai.